quarta-feira, 21 de janeiro de 2009

Acabou

Olhando pela janela, a doce brisa do verão vem brindar-me com seu suave toque em minhas rubras faces, umedecidas outrora pelo choro, que dilacerou de forma vil meu coração, sufocou meu grito e atormentou minha alma.
A dança findou, os suspiros acabaram, o vinho já não está mais à mesa, que por sua vez não mais farta está, a vida já voltou a sua mais primitiva forma. A forma triste. A forma monótona.
A rima não tem mais métrica, os pássaros já não gorjeiam como antes, o entardecer já chegou juntamente com a tristeza e solidão de antes, sentando-se ao meu lado, como um velho fantasma do passado ou como uma velha amiga, ela repousa silenciosamente ao meu lado, observando calmamente, soturnamente, cada movimento, cada olhar, cada foto, cada lembrança despedaçada da esperança que amanheceu em pranto.
Eis que as brumas que cobrem os corações entristecidos por coisas inacabadas novamente se tornaram densas, as lágrimas extintas há tempos já voltaram a molhar o travesseiro, o choro tornou-se novamente um soluço abafado na calada da noite, o cântico já não tem mais alegria, a poesia não tem mais paixão, as crianças têm um rosto triste, tudo isso, tudo isso por um motivo simples, impetuoso e sem explicação. Acabou!
Sim acabou! Acabou como o verão sempre acaba, acabou como um adeus sem volta, como uma tolice sem perdão, acabou como o medo havia avisado, como as tempestades que nos cercavam anunciavam! Acabou! Acabou sem sentido, sem um adeus comedido, sem um sorriso com esperança, sem deixar nenhuma lembrança! Apenas acabou!
Acabou, pois; a ausência antes triste tornou-se a presença indesejada. A saudade, antes uma amiga, transformou-se em presença enfadonha. As palavras antes rudes tornaram-se demasiadamente doces. Os afagos bem-vindos antes se tornaram apenas incômodos constantes. A candura antes tão valorizada, tornou-se mais uma forma de apelo emotivo.
O que falar? Como agir? O que pensar? Perguntas que se perdem em meio a tantas explicações inexistentes, a tantos tormentos constantes, a uma angústia que cala o peito em dor. O vazio que ficou, a lua que não é mais símbolo de um amor que tinha tudo para acontecer e não aconteceu, a poesia no papel molhado pelas lágrimas, dentro de um cesto de coisas inúteis. Não é possível explicar, jamais foi possível dizer e já se tornou impossível sentir. Apenas ficaram as lembranças, despedaçadas, tristes e um único sentimento, verdadeiro e realista. Acabou!


ouvindo : Goodbye my lover - James Blunt

Nenhum comentário:

Postar um comentário