quarta-feira, 25 de agosto de 2010

Uma das poucas certezas

Às vezes é preciso continuar. É nesse momento que você percebe que, não importa o quanto de tempo passe , as estações mudem, quantas pessoas virão e quantas se foram, você ainda estará lá com eternas dúvidas , com um certo excesso de comparações e com algumas poucas certezas. Uma delas é que, não importa o que você faça, não importa o que aconteça, você sabe que , por mais que você tente, algumas coisas nunca vão mudar.
Uma das poucas certezas que se pode ter na vida é de que, não importa como foi o passado, o quão bom ou ruim ele foi , você provavelmente, em algum momento, terá saudades dele, e não importa o porque dessas saudades, e sim a aceitação que você deve ter, de que nada será como antes, e que infelizmente, ninguém é igual a ninguém, e o pior de tudo, realmente existem pessoas insubstituíveis.

E se foi
Se jogou num mar aberto de ilusões
E as ondas te acertaram como eu planejei
Eu exagerei
Um sentimento forte
Eu sei que tive sorte
Aquilo não era o que eu sou
Agora eu sei muito bem quem eu sou
E o que me tornou

Ouvindo : Cine - As cores

segunda-feira, 9 de agosto de 2010

Um cara difícil

É prezada, leitora: se um dia você sair com um cara pela primeira vez, motivada a iniciar um relacionamento amoroso, e ele adverti-la dizendo “sou um cara difícil”, acione a luz amarela. Ok, pode ser que seja apenas charminho dele, uma maneira de se valorizar aos seus olhos – usou o adjetivo “difícil” como oposto de “tedioso”.
Sim, talvez ele só queira deixá-la ainda mais a fim, dizendo uma frase desafiadora que pode ser traduzida como: será que você consegue dar conta do meu temperamento explosivo, terá atributos suficientes para me amansar e me fazer virar um cordeiro na sua mão? Mulheres adoram esse joguinho perigoso.
Só que pode não ser jogo algum, e ele estar sendo absolutamente modesto na sua própria descrição: talvez ele não seja difícil, e sim impossível.
Nenhum de nós é muito fácil, nem homens, nem mulheres. Só o fato de termos sido criados em
cativeiro numa família com suas próprias regras, valores e manias já faz de cada um de nós uma aposta arriscada na hora de ter que negociar com uma espécie nascida em um cativeiro diferente. Mas, como relações entre irmãos são veementemente desaconselhadas, o jeito é procurar uma alma gêmea na praia, no bar, na rave, e torcer para que ele não dê o fatídico aviso “sou um cara difícil”, porque se ele for mais difícil do que todos naturalmente são, aí danou-se.
O cara difícil vai estar superentusiasmado quando falar com você ao telefone pela manhã e, à tardinha, ligará de novo para desmarcar o cinema porque precisa ficar sozinho. E o mais grave: ele vai mesmo ficar sozinho, com a luz apagada, em embate silencioso com seus demônios internos.
Quando vocês estiverem na platéia de um show com três mil pessoas, ele vai encasquetar que um homem de camiseta verde está olhando com insistência pra você, e vai ter certeza de que você está retribuindo o olhar, e você vai perder a voz tentando explicar, no meio daquela barulheira, que tem pelo menos oitocentos marmanjos de camiseta verde em volta, todos olhando pro palco.
Aliás, se estivessem olhando pra você, qual o problema, ele não se garante?
Que audácia, você peitou o cara difícil. Ele vai deixá-la sozinha no show e desligará o celular por três dias. Se você não amá-lo, o prejuízo será apenas a bandeirada do táxi que você terá que pegar para voltar sozinha pra casa, mas se você o ama, prepare-se para esvair-se em explicações e declarações, a fim de traze-lo de volta à realidade. Um cara difícil exige uma paciência oceânica.
Ele vai ser romântico e muito bruto. Ele vai ser generoso e muito casca-grossa. Ele vai dizer a verdade e vai mentir às vezes. Ele vai fazê-la se sentir uma eleita entre todas, e depois vai dar mole pra muitas. Ele vai implicar com as mínimas coisas, e com as grandes também. Ele vai exibir qualidades que você nem sabia que um homem poderia ter e, em troca, vai abusar de todos os defeitos que você sabia que todo homem tinha. Ele vai ser ótimo na cama. Vai ser um perigo dirigindo um carro. Vai ser gentil com sua mãe. Vai ser um brucutu com a mãe dele. Ele mudará de humor a cada vinte minutos, ele vai brigar por nada, vai beijá-la demoradamente por horas e, com essa bipolaridade bem ou mal disfarçada, ele a deixará tão tonta e exausta que você pensará que foi atropelada por um trem descarrilhado. “Quem sou eu?” será sua primeira pergunta ao acordar sobre os trilhos.
No primeiro encontro, pergunte: você é um homem difícil? Se ele responder que é, procure imediatamente um psicanalista. Pra você, santa.

Martha Medeiros

Obs: Adoro esse texto, pode ser encontrado no livro Doidas e Santas. Leitura que eu recomendo para um fim de semana tedioso, garantia de boas risadas e de identificações, que serão feitas ao longo das páginas viradas. E cá entre nós queridos leitores, bem real esse texto não? Hahahaha