quinta-feira, 28 de janeiro de 2010

Viver

"Um dia me disseram...Que as nuvens não eram de algodão...Sem querer eles me deram...As chaves que abrem essa prisão..."

É triste olhar o passado e chegar à conclusão que ele foi mais belo do que o presente. Difícil é contemplar as lembranças diáfanas da minha mente, e ter a absoluta certeza de que isso só vai piorar com o tempo.
A infância é a idade mais bonita, de tudo se ri se acha graça, se contempla com ternura e com o sabor inconfundível da inocência. As lembranças das brincadeiras com os primos, as reuniões em que sempre alguém se machucava brincando, o gosto de férias na casa da avó, a doce ilusão de que a vida sempre vai ser tão boa quanto os passeios de bicicleta, bolinhos de chuva e tardes de piscina com os primos. A ilusão de que a vida é tão boa quanto se ganhar o que se pede no natal, quanto às férias em família e os sorvetes na praia. Tudo que se carrega de ruim dessa época é o gosto dos xaropes, das vacinas e a dor das injeções.
Há quem diga que a vida adulta, ainda tem o mesmo gosto. Que as férias ainda são tão boas quanto antigamente, e que os sorvetes tem o mesmo gosto. Mas pense bem, há quanto tempo você não ri com os seus primos, como quando criança? E ainda que ria o suficiente, ao menos, sua mente não está tão leve, quanto ela já foi, na mais tenra idade. Existe sempre algo passando por ela, que não é qual a próxima brincadeira, ou o que tem de almoço, ou ainda como vai burlar aquela coisa verde que sua mãe está fazendo. A vida era mais fácil.
A adolescência é chata, é difícil, mas ensina. Ensina que você não pode confiar, como confiava. Ensina que mentir, às vezes é necessário, coisa que você só cogitava na infância, quando quebrava o vaso da sala. Ensina que as pessoas são cruéis, e que vão te decepcionar. Ensina que nem tudo é como você quer e que absolutamente nada é para sempre. Muitos consideram uma idade divertida, uma idade legal. Isso até você sair dela, porque quando sai, você olha para trás e pensa “Como eu fui idiota”, embora isso seja errado, já que com o passar do tempo, você ainda vai conseguir a proeza de maiores idiotices, do que as cometidas na adolescência.
E então a adolescência se vai e você descobre. Você descobre que tudo passa, os amigos que você julgava serem para sempre, já que você era tão parecido com eles. Os amores que você julgava serem únicos, embora eles tenham sido no mínimo dois, durante esses seis anos penosos. A raiva porque você não conseguiu ir ao evento que antecedia sua prova e mesmo aquela teimosa revolta que você tinha, rebelde!
Chega-se a idade adulta e ai sim, a vida torna-se dura. Você descobre o que é responsabilidade de verdade, e que ela não se limita a não fazer besteira e arrumar seu quarto. Muitas coisas ainda há de se aprender nessa fase. Embora seja jargão, uma delas é; decepção não mata, só ensina viver. Ainda aprendemos que errar é parte da vida, que acertar todas às vezes, nem sempre é possível, e que enganar-se é realmente ruim, mas que sempre vai acontecer. Nessa fase, se aprende que a vida não é feita de sonhos e sim de lutas, onde muitas vezes somos o nosso próprio inimigo. E finalmente notamos que não enxergamos mais a vida com a doçura de uma criança, e sim com a tristeza de uma.
Muitos podem ler tudo isso e pensar “Você é muito jovem para saber tanto”, porém sou velha o suficiente para enxergar as coisas como são e encarar a vida como ela é. Não posso divagar daqui em diante, não porque não quero ou ainda porque isso é tudo que me disseram como muitos por certo hão de pensar, mas sim porque só cheguei a esse ponto. Talvez ainda não tenha errado o suficiente para saber mais, ou aprendido o suficiente para afirmar com veracidade o que escrevo. Talvez muito pouco possa afirmar mais do que isso, mas uma coisa tenho por certo, de que não é mais fácil agora e não vai ficar mais fácil depois, somente menos doloroso e talvez bem menos assustador.

"É rolando no fundo dos rios que se lapidam os cascalhos" (provérbio chinês)

Ouvindo: Garotos - Kid abelha